A fuga de uma sombra…


Hoje, pela primeira vez, visitei o Forte de Peniche. Não sei se pelo facto de ter levado o meu filho ou se pelo facto de terem decorrido umas cerimónias com alguns dos intervenientes da libertação dos presos políticos em 1974, senti um peso considerável ao passar pelas salas das visitas e por ter imaginado a quantidade de histórias perdidas por entre aquelas paredes. 

Felizmente faço parte de uma geração que tomou conhecimento desta parte da nossa história comum apenas pelos registos e pela partilha dos que, na pele, sentiram o que foi viver esse tempo. Esse facto, de alguma forma, sempre me “distanciou” um pouco da vertente emocional da coisa, mas hoje,… cheguei a pedir para nos irmos embora! 

Julgo que não será fácil para ninguém, ficar indiferente ao ouvir testemunhos emocionados de quem viveu esses tempos, ainda por cima no local onde eles aconteceram, muito menos em ambiente de uma frieza atroz (espaço físico)!!! Para mim não foi!

Hoje em dia, com o passar do(s) tempo(s) às vezes até me parece que, em alguns círculos, deixou de fazer sentido relembrar esta parte da nossa história mas, para mim, o dia de hoje fez com que uma partição do disco duro que é a minha memória fosse reactivada! Esta parte da nossa história nunca poderá ser esquecida! Eu vou fazer a minha parte e vou fazer questão de a passar, o melhor que souber, ao meu descendente!! 

Continuo a ter como um dos objectivos da minha vida, deixar um legado aos vindouros e a partilha destas coisas é, sem sombra de dúvidas, uma bela forma de o concretizar…

Independentemente das correntes ideológicas intimamente ligadas a esta questão, há para mim algo de incontornável: o maior inimigo da liberdade é o conforto…

Um doce difícil de abrir…

 

Nunca foi uma das minhas referências maiores, quem me conhece sabe que as minhas referências principais sempre foram um pouco mais obscuras e menos diretas na interpretação dos seus posicionamentos, no entanto hoje sinto-me contente por saber que Bob Dylan é o novo Nobel da Literatura.

Em termos literários não sou propriamente a pessoa mais capaz para dissertar sobre a pertinência da atribuição deste galardão a Dylan mas para mim será sempre um dos “provocadores” maiores da história da Humanidade. Quando utilizo o termo “provocador”, utilizo-o com uma carga fundamentalmente positiva pois, se analisarmos a história e a vida de Dylan, chegamos facilmente à conclusão de que foi sempre a “provocação” que o levou um pouco mais além, que o fez descobrir novas formas, estéticas e não só, de comunicar, de agitar, de estimular, no fundo de melhorar o mundo que o rodeia!!

Dylan, mais do que o Mr. Tambourine, foi o “sugar man” que nos trouxe muitos doces até à nossa mão. Muitos doces que, apesar de estarem nas nossas mãos sempre apresentaram uma embalagem nem sempre fácil de abrir mas, quando abertas o deleite era garantido.

Numa geração (60’s), que ficou para a história como uma das mais disruptivas em relação às suas anteriores, Dylan foi, é, sem qualquer tipo de dúvida uma referência superior. Para as gerações posteriores à sua, Dylan, ficou para sempre como um marco que permitiu atingir objetivos que sem a sua existência nunca seriam alcançáveis. Para as gerações vindouras, Dylan, ficará como, além de tudo o resto, o primeiro escritor de letras a ser galardoado com o Nobel da literatura…

Well done Mr. Dylan!