Sou Presidente da Direção de um clube de futebol que milita na Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra. Tal facto, felizmente, não me tolda o espírito e a capacidade de analisar friamente o que são os verdadeiros interesses da comunidade onde estou inserido.
Começo, isso sim, e não o escondo, a ficar verdadeiramente cansado com as constantes publicações em redes sociais de algumas pessoas que continuam a defender o arranque das atividades físicas organizadas (competição).
Naturalmente que não existe ninguém que não compreenda que a prática de exercício físico é algo de fundamental no desenvolvimento de um jovem e igualmente importante na manutenção de um equilíbrio físico e emotivo num ser humano perfeitamente desenvolvido. Até aqui tudo de acordo! A partir deste ponto é que começo a não ter muita pachorra para perceber algumas teorias que quase defendem a competição desportiva como a salvação da humanidade!
Relembro que para que alguém possa efetuar a prática, regular ou não, de exercício físico estão devidamente garantidas todas as condições. Relembro que, havendo vontade por parte dos intervenientes, todas as atividades físicas disponíveis pré pandemia continuam a ser passíveis de ser praticadas. De facto, a vertente competitiva deixou de ser possível de se concretizar de uma forma global, fruto da existência de responsabilidades que têm que ser assumidas por alguém!
É muito fácil para qualquer pessoa “pensante” desenvolver teorias, válidas ou não, sobre o impacto que esta falta de competição trará à modalidade de futebol ou a qualquer outra, mas a questão que na minha ótica devia ser levantada é o que acontecerá aos dirigentes que até hoje sempre assumiram responsabilidades em função dos seus cargos e apenas por isso, e hoje são obrigados a manter essa assunção de responsabilidades acrescidas de tudo o que envolve os riscos associados da pandemia?!
Será que estas pessoas ainda não perceberam a distância abissal que separa o futebol profissional do futebol amador?! Será que estas pessoas ainda não perceberam que o futebol profissional enquanto fenómeno económico tem, ao contrário da vertente amadora, um peso substantivo na economia do país?! Será que estas pessoas não percebem que atravessamos um momento excecional da nossa vida e que para o ultrapassarmos teremos que ter posturas e assumir decisões igualmente excecionais?! Será que estas pessoas estão disponíveis para serem diretores num qualquer clube amador e assumirem tudo o que é preciso assumir?!
DEIXEM-SE DE ANTECIPAR A MORTE AO FUTEBOL! ISSO NÃO É VERDADE!
Eu posso dizer-vos o que me fez continuar no clube nos últimos 4/5 anos. Poder ver a satisfação dos atletas e pais dos mesmos por poderem usufruir da prática desportiva organizada e em competição que nós (direção e equipas técnicas) lhes disponibilizamos.
Hoje não é assim. Eu digo “ainda bem”. Há riscos que não fazem sentido ser corridos, este para mim é um deles!!! Quem achar o contrário que se chegue perto de mim e assine os termos de responsabilidade que eu já tive que assinar!!! Quem achar o contrário que assuma posições como eu assumo e me explique como consegue fazer omeletes sem ovos?! Quem achar o contrário, que me diga, de uma forma honesta, o que poderá ser feito, ao nível do futebol amador de forma a garantir as condições sanitárias mínimas a todos os intervenientes no processo desportivo (condições mínimas sanitárias é diferente das normas negociadas com a DGS)!
Enfim, o que eu gostaria de transmitir enquanto mensagem, é que ninguém morrerá por causa de eventualmente haver uma época desportiva que não se concretize, ninguém morrerá por causa de não haver um campeão distrital ou nacional do escalão “x” ou “y” …
Todos em conjunto deveríamos perceber que há caminhos que teremos que trilhar em grupo, e uma das coisas que me apercebi que faz parte deste caminho em grupo, é não enveredarmos pela solução fácil de: “se os outros fazem porque não faço eu?”, não, antes dessa questão terá que ser colocada outra: o que os outros estão a fazer está correto? Se a resposta for negativa deveremos obviamente ser proactivos na identificação de um NÃO CAMINHO e não irmos por aí…
A minha voz dissonante no mundo do futebol distrital conimbricense continuará a fazer-se ouvir por aí…