25 ABRIL – DEMOCRACIA E LIBERDADE

Ontem foi mais um 25 de Abril. Foi mais um daqueles dias em que me perco nos meus individuais e exclusivos pensamentos enquanto ouço histórias, estórias e confirmo dados históricos que me enriquecem enquanto ser humano e enquanto português.

Tenho vindo a habituar-me a ouvir alguns daqueles que são os mais conhecidos clichês destes dias, mas este ano há um que se destacou mais do que os restantes. O famoso “O 25 de Abril é de todos e não de nenhuma força ou corrente ideológica em exclusivo!”

Naturalmente que esta questão tem sido sempre levantada por aqueles que tendencialmente sentem que não são tão reconhecidos como parte do 25 de Abril de 1974 (se calhar pq não o foram).

Sinto-me naturalmente à vontade para falar sobre isto por todos os motivos e mais um, eu faço parte de uma geração pós 1974, eu nasci em 1976, inclusivamente depois do também famoso 25 de novembro de 1975!

Posto isto devo dizer-vos, também, que este ano, fruto das minhas funções de vereador, estive presente nas cerimónias oficiais do 48º aniversário do 25 de Abril. Não posso esconder que foi uma sensação estranha aquela que me atravessou quando fui encaminhado para a primeira fila. Uma sensação estranha que me levou automaticamente para os meus antepassados que certamente ficariam muito orgulhosos de me ver em tais preparos!

De repente caiu-me a ficha! Aquele aniversário não deveria ser feito ali! Aquele aniversário não deveria ser num local fechado! Aquele aniversário é das ruas! Aquele aniversário é das pessoas!

Mas enfim, ali estava eu a cumprir o protocolo e a fazer a figura de bom aluno para agora vir para aqui dizer o que me apetece…

Ouvi atentamente tudo o que lá foi dito. Quem quiser saber o que que estou a dizer basta aceder à transmissão streaming que foi feita da sessão no Facebook do Município de Cantanhede.

Poderia tentar agora fazer uma análise ao que foi dito, às mensagens que foram enviadas (ou não) tentar “pôr-me em bicos de pés” (como alguns fizeram no dia de ontem) e até os discursos cronometrar, mas prefiro fazer uma outra coisa. Vou tentar dizer-vos o que eu acho ser a substância do 25 de Abril de 1974.

O “25 de Abril” não é dinheiro, não tem a ver com o crescimento económico, nem com o PIB, nem com salários! Se repararmos bem, grande parte dos discursos que ouvimos neste dia refere-se sempre, dependendo do orador, a qualquer um destes aspetos que referi. Isto não é o 25 de Abril de 1974! No limite poderá ser sobre o 26 e subsequentes dias de abril do ano de 1974!  É curioso como quando se está em cargos de poder se exaltam as ditas conquistas de Abril e quando se está em posição de escrutinar os cargos de poder se sublinha o que ainda falta fazer!

Voltando ao que é para mim o 25 de Abril, é, claramente um dia, um momento histórico, em que se repõe valores civilizacionais que são inquestionáveis! A democracia, a liberdade de expressão, o estado de direito, a separação de poderes, as eleições livres!

Tenho hoje pena que estes valores sejam cada vez mais difíceis de encontrar nos discursos de comemoração do 25 de Abril!

E o que mais me aborrece é que se quisermos falar de desenvolvimento, também o poderemos fazer, basta comparar com os idos anos de 1974 os seguintes parâmetros: Taxa de mortalidade infantil, analfabetismo, esperança média de vida, saneamento básico, eletricidade nas casas, e muitos outros…

Fiquemos então pelos discursos tecnicamente bem escritos, com pretensão de falar de temas globais, como se fosse essa a nossa dimensão, com o objetivo de enviar recado e de fazer politiquice barata para “inglês” ver.

Finalmente, sobre o 48º aniversário do 25 de Abril de 1974, nota especial para os apontamentos musicais e para os apontamentos em que se pôde mais uma vez partilhar a nossa solidariedade para com o povo ucraniano e em especial para com a comunidade ucraniana presente no concelho de Cantanhede.

O Engº Ângelo Correia presenteou-nos com uma masterclass de como fazer palestras. Concorde-se ou não com as suas ideias (eu discordo de algumas), tenho que concordar que de facto a eloquência do orador e a forma incisiva como expõe os seus argumentos dificilmente deixam alguém indiferente. Neste particular, mais uma vez, gostaria que o tema fosse abordado com uma perspetiva mais associada a “Abril”.

Para o 49º aniversário do 25 de Abril de 1974 desejo honestamente que até lá as transferências de competências também se façam sentir nos escritores de discursos e que se volte a falar efetivamente dos valores de abril de uma forma clara e inequívoca e não de uma forma genérica, lata e, não poucas vezes, exageradamente superficial.

Vou ficar a aguardar por um aniversário nas ruas e com todas as pessoas a fazerem parte dessa grande comemoração!