O início da década de 90 do século passado foi, claramente, uma fase da nossa História recente muito rica em acontecimentos fraturantes e que deixaram marcas na nossa sociedade.
Relembro aqui hoje, um processo que deu origem à rotulagem de uma geração como “rasca”; foi o processo da abolição da PGA e da luta dos estudantes universitários contra o aumento das propinas.
Se por um lado a PGA (Prova Geral de Acesso) acabou por ser abolida em 1993/1994, já o aumento do valor das propinas, acabou por ser concretizado, corriam na altura os anos dourados do “cavaquismo”. Convém relembrar que um dos “trunfos” que a equipa governamental da altura teve a seu favor, foi claramente os episódios de mostragem de rabos a Ministros e responsáveis governamentais que serviram de base para a rotulagem de “rasca” à geração mais preparada (academicamente) da história recente de Portugal.
Até aos dias de hoje não foi encontrada outra forma de identificar aquela geração, da qual faço parte, tendo havido apenas espaço para a identificar como que um spin-off do rótulo original, além de “geração rasca” ficámos também conhecidos como “geração à rasca”!
Obviamente que desta geração também saíram individualidades importantes do que é a nossa vida em sociedade e que, de uma forma mais ou menos visível deixaram, ou continuam a deixar, a sua marca no nosso dia-a-dia.
No meu caso, um mero anónimo, foi uma fase marcante pois, ainda como estudante do ensino secundário, foi a primeira manifestação (das muito poucas) em que participei. Marcha até aos Paços do Concelho e regresso ao então Liceu (como era conhecido na altura).
Se pegarmos no spin-off do rótulo original, percebemos que, ainda hoje, grandes individualidades que à data tinham responsabilidades executivas, continuam hoje a debitar opiniões e, na minha perspectiva, pior do que isso, a moldar opiniões de muitos que “contra” eles lutaram nessa altura.
É natural que assim seja, diria eu, mas tenho para mim que também será natural que dentro de muito pouco tempo os rotuladores passem a fazer parte da “história” e os rotulados comecem definitivamente a assumir a responsabilidade de pegar nas rédeas da vida do nosso país e comecem a fazê-lo sem rotular seja quem for…
No meu caso, o rótulo em causa, apesar de pouco agradável, nunca me afetou de forma alguma, aliás, eu diria até que chegou a estimular-me em termos de vontade de ser parte ativa em potenciais soluções para problemas com que me fui deparando.
Enquanto sentir que tenho combustível para fazer esta viagem, continuarei a desbravar os caminhos onde estejam as “lutas” com que me identifico e que me permitam defender, até à exaustão, os valores que sempre defendi e continuo a defender…