CANTANHEDE – (AINDA NÃO É) MARCA DE CULTURA

Todos os fenómenos comunitários tendem a ser muito mais interessantes quanto mais em grupo sejam desenvolvidos. Este é uma das premissas que julgo ser verdadeira e que me faz desenvolver o raciocínio que abaixo passo a explicar.

Culturalmente falando, Cantanhede sempre foi uma terra rica e com valores que daqui partiram para os quatro cantos do mundo espalhar magia e partilhar o que de mais valioso tem uma população, a sua cultura.

Nos últimos tempos de pandemia, o sector da cultura, como outros, foi fortemente abalado quanto mais não fosse por se tratar de um sector da sociedade portuguesa muito sustentado no que hoje vulgarmente se apelida de “precários”. Estes ditos “precários” são agentes culturais que mantêm à tona o bem-estar mental, emocional e até sentimental de uma população, de uma comunidade.

Obviamente que também existe uma dimensão muito mais mundana que é o facto de serem pessoas que são agentes económicos como outros quaisquer. Parece-me que mais uma vez a pandemia deveria ser abordada como algo que nos veio obrigar a reposicionar uma serie de coisas. A pandemia obrigou-nos a relativizar de uma forma diferente os níveis de importância das “coisas” das nossas vidas.

A Cultura foi claramente, uma das “coisas” que facilmente percebemos que estava efetivamente desvalorizada enquanto fenómeno social, emotivo e económico.

Com este “novo” contexto julgo que deverá fazer todo o sentido que os responsáveis pelos destinos do nosso pequeno “quintal” devam fazer de uma vez por todas uma aposta séria e estruturada no que é o fenómeno cultural. Não devemos desvalorizar o peso da museologia no que é a Cultura de um povo, mas também não me parece que devamos reduzir a Cultura de um povo à sua museologia!

Sabemos todos que o fenómeno criativo é muitas vezes um fenómeno solitário, individual, que requer condições de retiro que nem sempre fomenta a partilha. No entanto se a isto adicionarmos a necessidade de otimizar recursos quase sempre reduzidos, percebemos que é necessário uma política consolidada de aproveitamento de sinergias para que todos possam sair a ganhar. Até os diferentes públicos serão vencedores deste desafio!

Cantanhede tem hoje uma panóplia de criativos nas mais diversas áreas e técnicos ligados às mais diversas formas de arte que muito invejaria à grande parte dos municípios. Somos, sem sombra de dúvidas um grande “exportador de criação”, somos sem sombra de dúvidas um fraco concelho a aproveitar e a reconhecer as qualidades criativas das nossas gentes.

Na minha perspetiva está mais do que na hora de existir um Conselho Municipal para a Cultura que inclua os mais diversos atores, nas mais diversas áreas de criação e que, em conjunto com o poder político definam uma política de desenvolvimento da arte cantanhedense.

 Cantanhede tem que ser uma marca de arte!

Cantanhede tem que ter um espaço físico multidisciplinar onde os criadores se cruzem uns com os outros e assim potencializem as suas características de artistas e as dos seus pares!

Cantanhede tem que ter um espaço que garantindo as condições técnicas mínimas não seja um “elefante cor de rosa” no meio da nossa sala! Neste momento não temos nem uma coisa, nem outra…

Cantanhede tem que se assumir como uma terra de criadores, uma terra de inovadores, uma terra de artistas!!

Cantanhede tem que ver nascer a sua “CASA DO ARTISTA”!

Vamos fazer nascer a “CASA DO ARTISTA DE CANTANHEDE”!

A HORA DAS POLÍTICAS CONCRETAS

Há poucos dias foi feita para o Jornal da Bairrada, pela Drª Helena Teodósio, uma análise aos números da população que nos foram disponibilizados por via dos Censos 2021.

Todos sabemos que a forma como se analisam números é vulgarmente “à vontade do freguês”. Se detalharmos, facilmente percebemos que a perspetiva da atual Presidente da Câmara faz sentido, mas podemos também muito facilmente desenvolver uma outra perspetiva de análise sem perda de lógica e de argumentos válidos. Por exemplo, desta feita comparemos o concelho de Cantanhede, não com os seus concelhos “amigos” da CIM Região de Coimbra, mas com todos os concelhos do litoral do país.

Da análise aos concelhos ditos do Litoral, entenda-se como concelhos que tem costa atlântica como um dos seus limites, chegamos facilmente à conclusão que Cantanhede se encontra no muito preocupante 2º lugar (-6.5%), apenas superado pelo concelho alentejano de Grândola (-6.7%)!

Neste particular, Cantanhede ainda conta com a agravante da tendência de descida já se verificar desde pelo menos os Censos 2011 (há 10 anos!). Julgo que não estarei a ser incorreto se identificar um prazo de pelo menos duas décadas de perda constante de habitantes no concelho!

Felizmente temos uma Presidente de Câmara muito otimista e que inclusivamente assume ao Jornal da Bairrada que “… a evolução é favorável…”! (certamente não analisámos os mesmos números…)

Pois bem, certamente que este assunto não será potenciado pelas forças políticas no poder enquanto tema principal da respetiva campanha eleitoral autárquica, mas parece-me inequívoco que este será um dos temas, senão o tema principal, que os decisores do futuro terão que habilmente gerir.

Se todos sabemos que a captação de investimento industrial é fundamental para o desenvolvimento de um concelho, também facilmente percebemos que todas as ofertas disponibilizadas em termos de qualidade de vida fazem toda a diferença na hora da captação de mais população, mais jovem, mais capacitada, mas também mais exigente.

Esta será a “mão de obra” que as empresas necessitarão para desenvolver o seu negócio, e será também esta população parte da solução para o problema demográfico que Cantanhede atravessa neste momento.

Nesta altura todos ouvimos muitos responsáveis políticos falarem de uma forma genérica acerca das políticas de apoio à natalidade, das políticas de apoio à população sénior, de políticas genéricas que tenham como objetivo combater o flagelo que alguém em tempos apelidou de “peste grisalha” (esta expressão não é minha e além disso não a subscrevo)…

Julgo que chegou a hora de se passar a propostas efetivas. Cantanhede merece mais ações concretas apoiadas em políticas de fundo para estas questões!

Em 2019, a CMC recolheu em receita do imposto Derrama cerca de 870 000€. Como forma de estimular a natalidade defendo que esta verba poderia ser canalizada para o pagamento de creches e infantários (por exemplo), ideia defendida por altos responsáveis de partidos políticos como por exemplo do PSD (Marques Mendes). É fundamental na captação de população para o concelho de Cantanhede, que a mesma tenha condições para assegurar os projetos de vida pessoais, nomeadamente o ter filhos e desenvolver uma família num ambiente equilibrado.

Outro aspeto que tem uma importância fulcral é a questão da habitação. Para quando uma política municipal arrojada ao nível das rendas acessíveis? Sabemos que em Cantanhede (cidade) a procura supera a oferta, para quando um estímulo sério e efetivo para que o sector privado faça face a esta necessidade? Naturalmente que só com estímulos se conseguirá esta resposta!

O pelouro do Urbanismo não pode ser apenas e só um local onde se analisam processos à luz da douta lei e onde o peso dos titulares dos processos continua a ser fator determinante na maior ou menor rapidez de resolução!

Naturalmente que uma medida deste cariz necessitará sempre de um enquadramento e de uma regulamentação adequados, mas o importante é percebermos que está chegada a hora de começarmos a apostar no que realmente é importante, está chegada a hora de apostar efetivamente nas pessoas, sem as quais nada mais existe…