Zé Pedro


As referências, enquanto guias, são fundamentais na construção de uma personalidade. A família, os amigos e numa esfera um pouco mais distante, os “ídolos” são uma parte importantíssima na personalidade de cada um de nós, eu não sou diferente, eu também tenho as minhas referências, eu também necessito de ter as minhas “guias”, eu também necessito de olhar para um lado, seja ele qual for, e identificar-me com algo|alguém e a partir daí tentar desbravar o meu caminho.
À excepção da família e amigos, é na área da música que tenho as minhas principais referências, e hoje desapareceu, fisicamente, mais uma! Zé Pedro!
Quem comigo desbravou alguns caminhos e teve em comum o gosto de explorar alguns aspectos estéticos, e não só, da experiência que é ouvir música, sabe que sempre tive duas referências máximas, eu diria mesmo, intocáveis. The Doors|Jim Morrison e Xutos & Pontapés|Zé Pedro.
Em tempos escrevi que a minha geração era aquela que tinha tido acesso a algumas referências em “segunda mão” mas que era a geração que cada vez mais as perdia em tempo real, aqui está mais um caso desses… Até um dia Zé Pedro!

Por não querer aquilo que me é dado
Pornão querer nem governo nem estado
Por não ter nada e por nada querer
Esquadrão da morte faz-me correr 

Eles aí estão. Já lhes sinto o bafo
Dobro uma esquina a ver se me safo
Poraí não. Que não tem saída
Muito obrigado. Que arriscas a vida
A noite é dia, o dia é noite 

Não tenho sítio onde me acoite
Esquadrão da morte avança no escuro
E sinto em frente a sombra de um murro 

E sigo o cheiro na escuridão
Que me conduz onde está a razão 

Sangue na boca da queda de á pouco
Tento falar só sai um grito rouco
Num beco sujo. Num vão de escada
Dois tiros secos e não resta nada 

Por isso eu ponho. Eu ponho a questão
onde, mas onde se esconde a razão

Mais um amigo!…

Hoje sinto que me falta qualquer coisa…
Sim, falta o Sr. Victor Campos, um homem que me habituei a ver desde sempre no Marialvas! Desde os meus tempos de atleta!! Ininterruptamente sempre presente nos melhores e piores momentos do clube!
Foi mais de um quarto de século ao serviço do clube, quer como atleta, quer como dirigente. Mais do que isso, foi um quarto de século em que alguém que não era de Cantanhede, se entregou de corpo e alma a esta terra, a estas gentes, ao desenvolvimento de gerações e gerações de atletas, sempre presente!
No campo pessoal, devo dizer que sempre o identifiquei como a parte racional e diplomática de uma dupla de dirigentes que me marcou profundamente, Fernando Salgado (polémico e explosivo) e Victor Campos (diplomata e apaziguador).

É incrível como estas coisas, estas pequenas coisas nos marcam e, passados uns anos, passam a ter uma importância tão grande nas nossas vidas!
Nos últimos tempos, não nego que tivemos os nossos episódios de divergências, mas tenho que realçar e agradecer a sempre presente disponibilidade do Sr. Victor Campos em esclarecer o que tinha que ser esclarecido e em harmonizar o que era para ser harmonizado.
Obrigado Sr. Victor, por tudo o que deu, por tudo o que influenciou, …
Obrigado por ter sido meu AMIGO!

 

Victor Manuel Campos Gonçalves

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23/12/1950 – 14/11/2017