As referências, enquanto guias, são fundamentais na construção de uma personalidade. A família, os amigos e numa esfera um pouco mais distante, os “ídolos” são uma parte importantíssima na personalidade de cada um de nós, eu não sou diferente, eu também tenho as minhas referências, eu também necessito de ter as minhas “guias”, eu também necessito de olhar para um lado, seja ele qual for, e identificar-me com algo|alguém e a partir daí tentar desbravar o meu caminho.
À excepção da família e amigos, é na área da música que tenho as minhas principais referências, e hoje desapareceu, fisicamente, mais uma! Zé Pedro!
Quem comigo desbravou alguns caminhos e teve em comum o gosto de explorar alguns aspectos estéticos, e não só, da experiência que é ouvir música, sabe que sempre tive duas referências máximas, eu diria mesmo, intocáveis. The Doors|Jim Morrison e Xutos & Pontapés|Zé Pedro.
Em tempos escrevi que a minha geração era aquela que tinha tido acesso a algumas referências em “segunda mão” mas que era a geração que cada vez mais as perdia em tempo real, aqui está mais um caso desses… Até um dia Zé Pedro!
Por não querer aquilo que me é dado
Pornão querer nem governo nem estado
Por não ter nada e por nada querer
Esquadrão da morte faz-me correr
Eles aí estão. Já lhes sinto o bafo
Dobro uma esquina a ver se me safo
Poraí não. Que não tem saída
Muito obrigado. Que arriscas a vida
A noite é dia, o dia é noite
Não tenho sítio onde me acoite
Esquadrão da morte avança no escuro
E sinto em frente a sombra de um murro
E sigo o cheiro na escuridão
Que me conduz onde está a razão
Sangue na boca da queda de á pouco
Tento falar só sai um grito rouco
Num beco sujo. Num vão de escada
Dois tiros secos e não resta nada
Por isso eu ponho. Eu ponho a questão
onde, mas onde se esconde a razão