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Há pouco dias ficámos a saber pelas redes sociais do Município de Cantanhede que, segundo o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, “Cantanhede é o município que, na Região de Coimbra, registou o maior equilíbrio orçamental em 2022, encontrando-se na 30.ª posição do ranking nacional neste indicador relativo à taxa de cobertura da receita corrente sobre a despesa corrente mais a média das amortizações dos empréstimos de médio e longo prazo.

Esta avaliação consta da última edição do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses recentemente tornado público e resulta do saldo positivo de 4.554.990 euros entre aquelas duas variáveis, obtido pelo executivo camarário liderado por Helena Teodósio, mais 1.031.825 euros do que em 2021.”

Até tenho vontade de dizer algumas coisas sobre este tema mas o que me traz aqui hoje é o facto de se continuar a valorizar estes tipo de avaliações quando, alegadamente são do interesse da maioria do Executivo do município e a desvaloriza-las, até a desdenha-las, quando nos mostram que se calhar o território tão fantástico que é o concelho de Cantanhede, tem algumas questões que ficam muito aquém do que é a verdadeira necessidade dos seus munícipes.

Uma das entidades cuja credibilidade e idoneidade é impossível colocar em causa é a PORDATA, e é precisamente por isso que me muni de informação retirada dessa plataforma.

Este texto não tem como objetivo ser uma análise exaustiva aos dados existentes na plataforma em causa, mas apenas ser uma perspetiva diversa da do município de Cantanhede e assim percebermos que existe sempre um outro lado…

Comecemos pela “População”. Facilmente constatamos que de 2011 a 2021 Cantanhede perdeu cerca de 2400 pessoas, mas o indicador que eu acho deve ser destacado é o valor de 51.4% de população inativa em relação à residente, um aumento de cerca de 2% que fez ultrapassar a barreira dos 50%, ou seja, já são mais os que estão inativos do que os ativos!

Se passarmos ao indicador “Famílias”, percebemos que também existem hoje (entenda-se 2021) em relação a 2011 menos famílias, mas houve um aumento de cerca de 2 pontos percentuais de pessoas que vivem sós, são já cerca de 10% da população residente.

É precisamente quando analisamos um novo indicador relativo à população e à sua escolaridade que percebemos que a população analfabeta, apesar de ter descido 41.4%, ainda se mantém acima das 1300 pessoas.

Se passarmos aos indicadores relativos à mobilidade, percebemos que as pessoas que saem da cidade para trabalhar ainda são em maior número do que as que entram, num diferencial de cerca de 2000. Sobre este tema destaco ainda a percentagem da população que se desloca regularmente de carro, 78% (aumento de 6.1 pp). Tal facto deverá ser efeito certamente da parca ou praticamente nula oferta de rede de transportes públicos coletivos e que satisfaçam efetivamente as necessidades da população.

Finalmente, no que toca à Habitação, tema de que se tem tanto falado, destaco o aumento de 35% de habitação arrendada ou subarrendada. Em sentido inverso percebemos que a construção “travou a fundo” pois se analisarmos o número de edifícios construídos na década antecedente (2001-2011), percebemos que representam cerca de 10% da oferta total. O crescimento, incipiente diga-se, de apartamentos e moradias ficou-se pelos magros 2.4%.

Gostaria de realçar novamente que este texto é apenas uma forma de se poder analisar este tipo de números e que, por isso mesmo, acredito que muitas outras análises se poderiam fazer, a descrever um cenário global bem mais interessante a quem só analisa pela superfície.  

Certamente muitos se questionarão do porquê de trazer dados de há mais de dois anos agora, mas a verdadeira razão deste texto não são os dados por si, mas a forma como alguns os usam.

Relembro, conforme inicio deste texto, que foi durante a semana passada que o Município de Cantanhede apresentou, com destaque, o facto de ser o 30º município ao nível do equilíbrio orçamental apresentado nas suas contas (dados do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses).

Pensemos no seguinte: Se se fizesse um ranking com estes temas seria também o 30º lugar o resultado que caberia a Cantanhede? Honestamente tenho muitas dúvidas que tal acontecesse.

Naturalmente que gostamos sempre de valorizar o que está bem em detrimento do que está menos bem, mas no caso de responsáveis políticos que têm como função primordial orientar os destinos das suas comunidades, julgo ser de fundamental importância que paralelamente ao enaltecimento dos aspetos positivos, deva ser feita uma identificação clara dos aspetos menos positivos e respetivas soluções preconizadas. Se assim não for, facilmente se cai na tentação de uma, segundo alguns já hoje existente em Cantanhede, lógica propagandista de comunicação.

Para terminar, sobre os muitos milhões identificados no início deste texto, defendo, como já o fiz múltiplas vezes no passado, que as contas certas serão sempre um fator importantíssimo na vida dos municípios, mas não podem ser castradoras do que é a função primordial de quem os lidera, que é satisfazer as necessidades, de múltiplas espécies, de todos os seus munícipes.