MENTIRA OU CONSEQUÊNCIA?

 

Quem não se lembra de um jogo, muito jogado na infância/pré-adolescência e que tinha como nome “VERDADE OU CONSEQUÊNCIA”?

Lindíssimo! O jogo tinha como objectivo descobrirmos os segredos mais obscuros dos nossos amigos/colegas, coisa que ainda hoje, que somos quase todos adultos, continua a ser um dos principais objectivos da nossa vida…

Não é por acaso que se diz que a arma mais poderosa é a informação!

Voltando ao jogo, é curioso como, analisando a coisa à distancia de um par de dezenas de anos, chego à conclusão de que se tratava de um jogo com muito mais substância do que à partida faria prever… acho delicioso que o jogo em causa se sustente quase na totalidade num conceito que para nós adultos não é tão ingenuamente garantido como quando éramos crianças ou pré-adolescentes. Senão vejamos, o jogo tinha como base o facto de, quando questionados termos que decidir se respondíamos (a verdade era única solução!) ou não o fazíamos e assumíamos a consequência (actividade a decidir pelos interlocutores). Ora aqui está a verdadeira questão que era o esteio deste jogo, o facto de nas nossas cabeças não ser possível mentir, evitando assim a assunção de uma verdade inconveniente ou a consequência com efeitos demoníacos!

Este ingénuo conceito foi o que manteve este jogo vivo até ao momento em que alguém se lembrou que poderia subverter este conceito e virar o “tabuleiro” a seu favor! O “Chico-Esperto” acabara de terminar o jogo e pior do que isso tinha acabado de corromper a ingenuidade dos seus parceiros, transformando-os em “terríveis” “usurpadores de todos os valores da verdade”!!!

Pois bem, para mim é hoje líquido que o homo-sapiens que habita este planeta, ao atingir certo e determinado estado de “desenvolvimento” tende a potenciar conceitos inversos aos que serviram de base ao seu crescimento. No que diz respeito à questão da VERDADE isso é notório. Se existirem advogados a ler este texto, sintam-se perfeitamente à vontade para me corrigir se for caso disso pois vocês serão certamente as pessoas com mais know-how para o fazer.

A “verdade” é algo que com o passar do tempo adquire características diferentes pois , “at the end of the day” uma “quase mentira” não é uma “verdade”, mas uma “quase verdade” poderá ser uma “mentira”(ou ter o mesmo efeito)…

Claro que esta perda de inocência da pré-adolescência para a idade adulta é algo de natural e faz parte de um processo de “desenvolvimento”, só lamento que não tenhamos a verticalidade de comportamentos suficiente para assumirmos que, chegando à idade adulta (os que conseguem chegar a esse estádio de desenvolvimento), o nome do jogo deveria ser “Mentira ou consequência?”

Nota final: este texto não tem como objectivo branquear os mentirosos que por aí andam mas sim proteger os que sofrem os efeitos das suas mentiras (dos mentirosos, claro!!)

“A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.”  Anais Nin