ANGOLA – PARA REGRESSAR, OU PARA NÃO MAIS VOLTAR?
Numa primeira visão do que é chegar a Angola, e para quem conhece os locais que vou identificar, existem algumas semelhanças com a Venezuela, nomeadamente com Caracas. Uma cidade em constante reboliço e com um ar algo pesado por causa da humidade sempre presente. Uma vivacidade que nos entra por todos os poros do nosso corpo e que nos contagia de uma forma incontornável. Esta sensação positiva mantém-se até ao momento em que nos cruzamos com o dia a dia do angolano médio, um angolano que tem um ordenado de 300 US$ e que vive como vai conseguindo… Uma luta constante de “classes” vive-se na Luanda de hoje, onde a ostentação do Hummer H3 se mistura, sem pudor algum, com o número brutal de jovens (fundamentalmente rapazes) que vendem (tudo e mais alguma coisa) nas filas de trânsito…
Posso dizer que no fundo estava à espera de um choque maior, mas provavelmente, por já ter tido a experiência de visitar a Venezuela, esse choque não foi tão acentuado. Uma cidade em constante movimento mas que a partir das 6 da tarde só os mais afoitos andam à vontade pelas suas artérias… Quem busca em Angola (Luanda) uma oportunidade de trabalho e de melhorar a sua vida financeira tem aqui uma oportunidade que não é de descurar pois estamos a falar de um fluxo de oportunidades e de dinheiro muito considerável, no entanto o acesso a essas oportunidades não está simplesmente ao virar da esquina, essas oportunidades estão escondidas nos “poderosos” que residem nos gabinetes do stablishment.
Se me pedissem para identificar o que mais me tem satisfeito neste minha nova experiência eu diria, sem sombra de dúvidas, que sentir o pulsar da “cidade real” é algo que não se consegue explicar por palavras, apenas se consegue sentir… sentir o olhar de uma mulher que comercializa fruta no passeio mesmo em frente a um Supermercado turco ou português, o olhar do pequeno Toni que simpaticamente me pergunta : “sinhor, quer engraxar?” ou até mesmo a deferência com que um segurança, de AK47 em punho, me responde “Obrigado Sinhor” quando lhe desejo um bom dia… enfim tudo isto me tem ajudado a pacientemente ultrapassar o transito infernal da estrade de Luanda para Catete . É isto que me tem feito levar o dia a dia de trabalho de 13/14 horas de uma forma minimamente equilibrada. É isto que me tem dado alento para, quando me lembro da minha família (quase todos os segundos do dia), seguir em frente e partilhar cada momento desta minha aventura comigo próprio…
Naturalmente que esta visão de Luanda é algo romântica, tal como eu sou romântico por opção, no entanto existe um “lado negro” desta realidade. Existe o lado em que na sociedade angolana o valor da vida humana se resume a uns míseros Kwanzas (100 Kz = 1US$) e sem dificuldade nos cruzamos com um corpo acabado de atropelar e seguimos viagem… enfim acredito que outras visões existirão acerca deste pedaço de terra, de extrema riqueza, mas esta visão tem apenas pretensão de ser uma visão pessoal de alguém que nunca tinha pisado ou cheirado terras de África e que hoje tem uma perspectiva diferente… para melhor e para pior…