A POLÍTICA DO ALCATRÃO

Bem sei que os soundbites do momento rimam com coração, estupefação, usurpação, … enfim, como todos já perceberam falam de corrupção. Hoje venho até vós não para falar de corrupção, mas sim de outra palavra terminada em “ão”, ALCATRÃO.

Sinto necessidade de fazer uma nota prévia para que todos, sem exceção, tenham em consideração que para mim, qualquer obra é sempre boa notícia, independentemente do momento em que a mesma se concretiza.

Posto isto, sinto que estão reunidas as condições mínimas para poder partilhar convosco uma sensação que tenho e que diz respeito à catadupa de divulgações que o município de Cantanhede, através do seu sítio de Internet e através das múltiplas plataformas que partilham o que se vai fazendo por terras do marquês, tem vindo a fazer.

Como disse anteriormente, qualquer obra é, para mim e por definição base, uma boa notícia. No meio de tudo isto há algo que, apesar de compreender, não consigo continuar a relevar pois é um sinónimo da eventual parca capacidade de análise crítica da população e que o atual executivo faz questão de tentar capitalizar para os seus objetivos políticos (eleições em outubro).

Sei bem que não é caso único no nosso panorama nacional, aliás, até posso dizer que o registo “normal” será esse mesmo.

Apesar de ser prática usual não considero que seja a prática ideal!

Se se consegue articular recursos físicos, humanos e até financeiros para esses meses tradicionalmente intensos de obra atrás de obra, porque não se diluem esses ditos recursos e se faz um plano de obras que, de uma forma regular e adequada, satisfaça as necessidades das respetivas populações no tempo certo?

Sei bem que já todos estamos preparados e habituados para estes ciclos, mas não deixa de ser para mim mais uma forma de condicionar e manipular a perceção que as pessoas têm da qualidade do trabalho levado a cabo por quem nos representa.

Obviamente que falar em resultados de gestão positivos com 6 dígitos, tornar públicos “estudos” com preços genericamente mais baixos da água, e ter a “Brigada de aplicação de tapete betuminoso” numa azafama nunca antes vista, pelo menos nos últimos três anos e meio, tem um impacto na população muito positivo para o executivo, mas a minha preocupação centra-se noutras questões.

Não será esta prática recorrente um sinal claro de uma gestão política dos destinos do concelho completamente avulsa?!

Não será esta prática recorrente um sinal claro de um executivo que navega à vista os destinos de todos nós?!

Não será esta prática recorrente um sinal do que os nossos dirigentes pensam de nós munícipes?!

Certamente que, de tudo o que foi dito atrás existe um pouco de cada, mas o que mais me preocupa é que cada vez mais penso que os nossos dirigentes nos identificam como agentes do quotidiano que pouco pensam e que tudo aceitam se lhes for disponibilizado da forma certa…. Popularmente falando, “com papas e bolos se enganam os tolos…”  

Para mim seria muito mais interessante, se não for possível de uma forma regular durante o prazo dos mandatos, pelo menos nestas alturas falar-se do que são as políticas de fundo defendidas para o futuro do município. Desta forma estaríamos a elevar a qualidade de uma potencial partilha de ideias entre as partes o que inequivocamente acabaria por ser uma verdadeira mais valia para toda a população.

A política não pode continuar a a ser um móbil para se atingirem fins individuais ou particulares e, de uma vez por todas, temos que meter na cabeça que a política tem que existir com o fim único de servir a população!

Sempre me considerei, como considero todos os seres pensantes, como um ser político.

A política procura um consenso para a convivência pacífica em comunidade… com ou sem alcatrão!

Um pensamento em “A POLÍTICA DO ALCATRÃO”

  1. ” …é que cada vez mais penso que os nossos dirigentes nos identificam como agentes do quotidiano que pouco pensam e que tudo aceitam se lhes for disponibilizado da forma certa…” FANTÁSTICA ANÁLISE.
    O “povinho” tem de ser mantido na ignorância. Sendo ignorante é feliz, sendo feliz é obediente e vota sempre nos mesmos pedantes. Onde é que já ouvi isto??

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